sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Produção e compreensão textual

Gersely Sales


A língua ao decorrer dos tempos foi um objeto de estudo muito importante para vários estudiosos linguistas. Uma questão de grande importância destes estudos é como aplicá-la ao ensino, observando os fenômenos e a intenção central de quem a ensina. A metodologia de ensino dá-se através de textos (falados e escritos) exercitando leitura e compreensão, raciocínio e argumentação, fonologia e morfologia, variantes linguísticas etc., sempre levando em consideração que o ser humano ao ir pra escola já possui competência comunicativa, logo, a função da escola está no domínio da comunicação no geral em suas produções discursivas, atividades e interações verbais; saindo do ensino normativista para o ensino mais reflexivo.
Analisando a língua em suas noções, vemos que na noção estrutura / forma (séc. XIX) consolidada por Saussure e Chomsky, os estudos linguísticos limitam-se a fenômenos sistemáticos (fonologia, morfologia, sintaxe e semântica), não indo além da frase; Na noção instrumental, a língua é um instrumento de comunicação que se aprende pela formação de hábitos “de fora pra dentro” do indivíduo, um código para combinação de regras, codificação e transmissão da mensagem de um emissor a um receptor, definida por Saussure no século XlX, concepção muito adotada por manuais didáticos, quando tratam de compreensão textual; A noção cognitivista (mentalismo) afirma que o ser humano já nasce predisposto à linguagem e que a aprendizagem é adquirida pela sequência de regras. Levando em consideração nesta concepção, a hipótese sociocognitivista que não se restringe apenas ao cérebro ou a um fenômeno biológico, mas considera também o social; Na concepção sociointeracionista a língua é vista como processo de interação e cultura, considerando aspectos históricos, cognitivos e discursivos, atuando nos interlocutores que se interagem. Considera o texto tanto em seu aspecto organizacional quanto no funcionamento enunciativo, nomeando-o de textual-interativo. “A língua é um conjunto de práticas sociais e cognitivas historicamente situadas” (MARCUSCHI, 2008, p. 61), ao estudar o texto, não se podem ignorar os fatores do sistema linguístico (fonologia, morfologia, sintaxe, léxico, semântica), como enfatiza Marcuschi em: “Quando se fala em uso e função, não se ignora a existência de formas” (2008, p. 62). O uso da língua manifesta-se no cotidiano social histórico, e também nos eventos discursivos, por isso não é considerada abstrata e nem homogênea.
O funcionamento da língua dá-se ao sujeito, conforme Possenti (1993) disse: “Tratar o sujeito é responder à questão da relação entre quem fala e o que é falado” (apud MARCUSCHI, 2008, p. 68). Estudou três definições de sujeito, o “eu falo”, aquele que agrega ao enunciado que produz algo relevante à interpretação; a expressão “fala-se”, dando conta daquele que fala e do que é falado, o qual sempre quem fala é um sujeito anônimo devido à partícula (se); e o “isto” é o inconsciente.
“O texto é um evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas” (BEAUGRANDE, 1997, apud MARCUSCHI 2008, p. 72), com base na citação vemos que o texto não é um aglomerado de vãs palavras faladas e/ou escritas, mas sim uma atividade que reordena e reconstrói o processo comunicativo. O texto (objeto de figura) e discurso (objeto de dizer) relacionando-se compõem a enunciação, onde o primeiro é a enunciação e o segundo a esquematização da mesma, e entre ambos está o gênero que condiciona a atividade enunciativa; sabendo que os processos enunciativos não obedecem a padrões fixos e que não podemos separar o texto do contexto que é a fonte de sentido. Beaugrande (1997: 13) disse que “Um texto não existe como texto, ao menos que alguém o processe como tal” (apud MARCUSCHI, 2008, p. 89), com essa afirmação analisam-se alguns fatores: o texto não sendo um artefato e nem um produto, sua existência depende de que alguém lhe processe em algum contexto; e situa-se num contexto sociointerativo; ele só será considerado texto se oferecer interpretação e compreensão do indivíduo.
Os critérios de textualidade de um modo geral articulam três aspectos, são eles: os aspectos linguísticos, sociais e cognitivos. O texto é tido como processo e não como um produto acabado, pois não é formal e sim uma realização linguista. Analisemos então os sete critérios de textualidade definidos por Beaugrande/Dressler: Os orientados pelo texto (coesão e coerência), com aspectos psicológicos (intencionalidade e aceitabilidade), aspecto computacional (informatividade) e sociodiscursivo (situacionalidade e intertextualidade). Os processos de coesão dão conta da estruturação (forma) da sequência do texto, regidos por fatores da conexão referencial (semântica) e sequencial (conectivos), já que sempre foi vista como um fenômeno superficial do texto; A coerência baseia-se no sentido que manifestam os enunciados, dando continuidade ao texto e ligando-o ao discurso. Possui dois princípios básicos, o da não contradição e o da não tautologia (providencia a progressão da temática); A intencionalidade considera a intenção do autor como fator importante para a textualização; A aceitabilidade compactua com o receptor do texto e como ele o recebe; A situcionalidade refere-se à relação em que o evento textual ocorre, considerando o social, cultural, etc.; Intertextualidade é uma propriedade constitutiva de qualquer texto que relaciona um texto com outros textos anteriores; Quando um texto é coerente, é porque ele expõe conteúdos, logo faz parte do critério de informatividade.
Em contextos teóricos, vemos a noção de tópico que se distingue em tópico frasal e tópico discursivo (oral ou escrito). O primeiro restringe-se ao nível da frase, fazendo parte da natureza sintática; e o segundo ao contrário, não se limita apenas a frase, mas considera também os fenômenos discursivos, os aspectos cotextuais e contextuais. O princípio de distribuição da informação na frase na perspectiva funcional, (HEINEMANN/VIEHGER (1991: 32) apud MARCUSCHI, 2008, p. 135), dividem-se em tema e rema, a informação dada e a informação nova, respectivamente, onde a sua junção forma o hipertema (tema central). O tema possui cinco formas, a depender da escolha do autor, sendo eles, a progressão linear simples, progressão com um tema contínuo, progressão com tema derivado, progressão com um rema dividido e progressão com salto temático.
O processo referencial é de grande importância para a produção e compreensão textual, pois ele considera a concepção objetiva e realista da língua, assim como a atividade sociocognitiva, que postula o texto como um evento e passamos a entender os processos referenciais e a organização tópica. Com isso a análise na relação referenciação/coerência torna-se imprescindível, pois a progressão referencial diz respeito à introdução, preservação, continuidade e retomada do texto; e a progressão tópica aos assuntos ou tópicos discursivos ao longo do texto.

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